Ontem, dia 27, a Rua da Judiaria fez dois anos. É um dos sítios que visito diariamente, com a certeza de que irei aprender coisas novas.
Já houve dias, em que os pequenos contos foram uma fonte de inspiração! Obrigada. Um grande bem-haja para o Nuno Guerreiro.
Aqui fica uma singela homenagem através de e pelas Palavras:
You Are Welcome To Elsinore
de Mário Cesariny in Pena Capital
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Já houve dias, em que os pequenos contos foram uma fonte de inspiração! Obrigada. Um grande bem-haja para o Nuno Guerreiro.
Aqui fica uma singela homenagem através de e pelas Palavras:
You Are Welcome To Elsinore
de Mário Cesariny in Pena Capital
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
1 comentário:
A literatura não tem uma finalidade prática, alguém disse. Será? Para mim, ela é o registo da realidade, ainda que vista por ângulos diferentes e aí reside a sua riqueza.
Está associada a alguma realidade:
a realidades verdadeiras, a realidades possíveis ou apenas imagináveis, dependendo do que o autor quis passar e do que o leitor conseguir recriar.
A Literatura pode superar o silêncio existindo, subsistindo. Não por inércia, não como artificialidade: mas como esforço, afirmação, conquista - qualitativamente.
E como escreveu André Maurois,
o homem de acção é antes de tudo um poeta.
Deixo mais um poema de Cesariny, porque intervir é uma questão de atitude...
Exercício espiritual
" É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora "
Mário Cesariny de Vasconcelos
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