07 outubro 2005

A III república ...

Inqualificável é a maneira como várias corporações têm parasitado o estado ajudando o "monstro" a crescer sem controlo à vista, passando pela vergonha do nosso sistema de justiça e ... agora a tão propalada inversão do ónus da prova - a admissão da própria incapacidade de querer e/ou poder alterar o status quo.

A irracionalidade que é caminhar para o abismo e não fazer nada! Quando é que os portugueses acordam e enfrentam a situação? Quando começar a haver incumprimentos de pagamentos na Segurança Social? Quando aumentarmos ainda mais o nível de impostos de maneira a asfixiar qualquer capacidade de investimento e crescimento económico? Será que temos inscrito no nosso ADN a condição de eternos remediados? Será que não nos sabemos governar por nós próprios neste cantinho à beira mar plantado? Estaremos condenados a saltar para lá das nossas fronteiras? É que lá fora, longe dos direitos adquiridos tout court é comum ver compatriotas nossos a trabalhar com afinco, a ultrapassarem-se a eles mesmos, enfim, a prosperar!

É ver os pilares da nossa república a falharem as missões para os quais foram criados, nomeadamente quando se analisa acontecimentos como os de Felgueiras & cia. É ver o poder legislativo a fazer leis, leis e mais leis que de tão perfeitas, são completamente inaplicáveis. Tão perfeitas, que permitem ser aplicadas das maneiras mais contraditórias por uma estirpe de inqualificáveis. Quase apetece dizer "leis de e para aldrabões".

É ver o poder executivo, cada vez com menor capacidade. E mais importante, com cada vez menos coragem de mudar o que quer que seja. É o tique estatizante. Ele são projectos megalómanos para aeroportos, para TGVs, subsidiação de energias alternativas, etc. ... e o monstro continua a crescer ... a devorar os parcos recursos que fazem falta ao investimento e crescimento económicos a quem verdadeiramente gera riqueza. É a absoluta incapacidade de controlar e domesticar um conjunto de corporações que de há muito estão habituadas a comer à mesa do orçamento de estado.

É ver o poder judicial, completamente inoperante em termos de eficácia na aplicação das leis. É vê-los dar tristes exemplos como os de Felgueiras onde quem foge à justiça é recompensado. Na Casa Pia onde os testemunhos não são considerados para efeitos de escusas de ida a tribunal de certos arguidos mas em que os mesmos testemunhos já são utilizados durante o julgamento. É ver os meses a passar para se analisarem recursos e se tomarem outras decisões processuais. Já para não falar nas constantes insinuações de influência partidária em certas decisões.

É ver a comunicação social discutir o acessório em vez do essencial. É ver os media audio visuais, os de maior impacto, a repetir acriticamente notícias elaboradas por gabinetes de relações públicas e/ou acessores de imagem. É ver o constante enviezamento ("bias") do jornalismo de causas. É o entretenimento rotulado de informação. Quase apetece dizer "é infotainment, estúpido!". É a crescente falta de credibilidade decorrente de atitudes autistas e corporativistas em que certos jornais ditos de referência são constantemente desmentidos e não tomam a iniciativa de esclarecer os seus leitores.

Quase apetece dizer "o último a sair que feche a porta!".

É isto, o melhor que conseguimos ser?

3 comentários:

Anónimo disse...

Grato pelas referências Do Portugal Profundo, Professor Pardal. Antes não fossem necessárias e pudéssemos falar de flores e frutos...

Linkarei o Laranja com Canela na próxima actualização de links. Gostei muito. Parabéns!

Professor Pardal disse...

Obrigado nós pelo suas palavras.

José Pires F. disse...

Creio que conseguiremos ser muito melhores, não com a maioria destes políticos, não com muitos destes Jornalistas, não com muitos dos gestores que temos, mas um dia chegaremos lá.
Tem de ser essa a esperança, de quem quer um outro Portugal.