15 janeiro 2006

Leituras ...

Acompanho a sede de poder de Ricardo, Duque de Gloucester e as intrigas que o colocarão no trono de Inglaterra. Sugestão do Leitura Partilhada.

Luz na Cidade


Está em cena no Teatro Aberto a peça "Luz na Cidade" (Shining City) de Conor McPherson. Encenada por João Lourenço, com interpretação de Marco Delgado, Nuno Gil, Rui Mendes e São José Correia.

João, a quem morreu a mulher recentemente, procura a ajuda de um psicólogo. Nuno é o psicólogo e percebemos que pretende refazer a sua vida. É um ex-padre, estudou psicologia e envolveu-se com Elisa, da qual tem uma filha. Elisa acompanhou-o sempre nos momentos difíceis.

João vive atormentado pois viu, em casa, o fantasma da mulher. Apareceu-lhe com o cabelo molhado e com um casaco vermelho forte. Para fugir à situação vai para um hotel.

Nuno discute com Elisa, percebe que esta se envolveu com outra pessoa e põe em causa a paternidade da filha. Avizinha-se a ruptura.

Percebemos como foi a vida de João com a sua falecida mulher, Marta. Sem filhos e sem grandes momentos.

Descobrimos um pouco mais de Nuno, quando um dia dá um passeio pelo parque e convida para casa um rapaz.

A peça conduz-nos através dos dramas individuais das personagens, como estas se descobrem a si próprias e resolvem os seus problemas.

Rui Mendes destaca-se no elenco. Dá vida à personagem de João de forma irrepreensível. É um verdadeiro senhor do teatro. Marco Delgado convence-nos com a representação de Nuno. É um actor que promete.

Nuno Gil é o rapaz do parque, procura criar o estereótipo de um jovem com problemas que precisa de dinheiro. Para criar a sua personagem desenvolveu um conjunto de tiques que o ajudam a dar consistência à personagem. São José Correia é Elisa, entra num registo um pouco histérico mas consegue agarrar o personagem.

"Luz na Cidade" é uma peça com bons momentos de humor. Mostra-nos os encontros e desencontros da vida, o modo como a espiritualidade e aquilo em que acreditamos nos afecta ou como pode mudar de um momento para o outro. Vale a pena!

Os sapatos de Van Gogh

Um Par de Sapatos
Paris, princípio de 1887

Votação do Melhor Filósofo do Cinema

Decorre no Cinefilosofia uma iniciativa muito interessante, eleger o Rei Filósofo do Cinema.
Participem. Façam a vossa escolha! Woody Allen, por enquanto, vai à frente na sondagem.

10 janeiro 2006

O que se esconde numa imagem ...

Um par de sapatos, Van Gogh
Paris, segunda metade de 1886
Óleo sobre tela, 37,7 x 45 cm

«Na escura abertura do interior gasto dos sapatos, fita-nos a dificuldade e o cansaço dos passos do trabalhador. Na gravidade rude e sólida dos sapatos está retida a tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que se estendem até longe, sempre iguais, pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro, está a humidade e a fertilidade do solo. Sob as solas, insinua-se a solidão do caminho do campo, pela noite que cai. No apetrecho para calçar impera o apelo calado da terra, a sua muda oferta do trigo que amadurece e a sua inexplicável recusa na desolada improdutividade do campo no Inverno. Por este apetrecho passa o calado tremor pela segurança do pão, a silenciosa alegria de vencer uma vez mais a miséria, a angústia do nascimento iminente e o tremor ante a ameaça da morte.»

Martin Heidegger, A Origem da Obra de Arte, Edições 70, p. 25

07 janeiro 2006

Antes de Começar de Almada Negreiros

"Antes de Começar" de Almeida Negreiros está em cena no Teatro Estúdio Mário Viegas. Com encenação de Juvenal Garcês e interpretação de João Marta e Maria Albergaria.

Esta peça estreou pela primeira vez, em 1949, no Teatro-Estúdio do Salitre e o texto acabou por ser publicado em 1956.

É uma peça para todas as idades. Conta-nos a história de um boneco e de uma boneca que um dia descobrem que se podem mexer e falar como as pessoas. Ambos descobrem que o coração sabe sempre o que quer...

Um texto emocionante numa encenação que nos transporta para uma dimensão mágica e de sonho.

06 janeiro 2006

Viagem Literária da obra "A Filha do Capitão"

Viagem literária da obra "A Filha do Capitão" de José Rodrigues dos Santos promovida pelo Centro Nacional de Cultura, em Abril.

Considero interessante conhecer os locais a que as obras fazem referência, pois, esse contacto dá-nos outras perspectivas que não conhecendo não temos. Para quem leu a obra pode ser uma viagem interessante.

José Rodrigues dos Santos é também um autor que quero descobrir, mas antes vou acompanhar as leituras de Shakespeare no Leitura Partilhada.

O melhor desejo ... conto filosófico

Existem várias versões de contos que envolvem génios e a realização de desejos. No entanto, considero este muito interessante:

Um pescador apanha na sua rede de pesca uma garrafa. Assim que o pescador abre a garrafa começa a sair fumo que se transforma numa figura terrível.

«O génio libertado diz ao pescador:
- Formula três desejos que eu os executarei. Qual é o teu primeiro desejo?
- Ei-lo - disse o pescador. - Quero que me tornes suficientemente inteligente para que possa escolher na perfeição os dois desejos seguintes.
- Concedido - disse o génio. - E agora, quais são os teus outros desejos?
O pescador reflectiu por um momento e respondeu:
- Obrigado. Não tenho mais desejos.»

Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro, Teorema, 1999, p.134

03 janeiro 2006

A Conspiração ...

Esta obra de Dan Brown é apresentada, assim, pelo editor:

«Quando um satélite da NASA descobre um estranho objecto enterrado nas profundezas do gelo do Ártico, a agência espacial vangloria-se de uma vitória de que muito necessita - uma vitória com profundas repercussões para a política interna da NASA e para a futura eleição presidencial. Para verificar a autenticidade da descoberta, a Casa Branca chama a especialista dos Serviços Secretos, Rachel Sexton. »

Rachel é filha do senador Sedgewick Sexton, que é candidato à presidência dos EUA. Depois da morte da mãe afasta-se do pai, mas este está demasiado ocupado com as suas ambições políticas e nem nota. No entanto, pede-lhe que abandone o cargo no National Reconnaissance Office e trabalhe na sua campanha. Rachel recusa.

Zachary Herney é o Presidente dos EUA e, ao contrário de Sexton, defende o trabalho da NASA. Mas Sexton está a ganhar terreno, a opinião pública começa a simpatizar com a ideia de que a NASA soma demasiados fracassos para o dinheiro que gasta.

Gabrielle Ashe é a assistente pessoal do senador. Muito determinada e ambiciosa, sonha em vir a ser senadora. Envolveu-se com Sexton e isso irá ser usado contra si.

Majorie Tench é a principal conselheira do Presidente. É um génio da política.

Rachel depois de uma conversa com o Presidente dos EUA viaja para o Ártico. Aí ficará a saber que se encontra enterrada no gelo uma rocha com oito toneladas. Essa rocha é um meteorito que caiu em 1710. Contém o fossil de um bicho.

A equipa de cientistas que está a trabalhar para trazer a rocha à superfície é formada por:

- Michael Tolland, oceanógrafo. Conhecido do público pelo popular programa que apresenta na televisão intitulado "Amazing Seas";

- Corky Marlinson, astrofísico;

- Waillee Ming, catedrático de Paleontologia na UCLA;

- Norah Mangor, glaciologista.

A rocha é removida. Mas nem tudo vai correr bem...

30 dezembro 2005

A Conspiração ...


"A Conspiração" ("Deception Point", 2001) é o último livro de Dan Brown publicado entre nós. Comecei a minha leitura com a expectativa que o autor seguiria o mesmo esquema narrativo do "Código Da Vinci" (em Maio nos cinemas) e de "Anjos e Demónios", mas até agora tenho notado algumas alterações. De Robert Langdon, até à página 95, não há sinais.

Dezembro, mês do Natal ...


Lisboa, Rua Garrett, 29 de Dezembro de 2005, às 17h47.

Lisboa, Rua Garrett, 29 de Dezembro de 2005, às 17h55.

Lisboa, Praça do Comércio, 29 de Dezembro de 2005, às 18h13.

Lisboa, Praça do Comércio, 29 de Dezembro de 2005, às 18h16.

Ontem, ao final da tarde, passei pelo Chiado e Praça do Comércio. A cidade está bonita. As iluminações de Natal dão-lhe um outro encanto e são um bonito espectáculo.

Na Praça do Comércio, a gigante árvore de Natal suscita a curiosidade. São muitas as pessoas que ali se deslocam para a contemplar e, como não podia deixar de ser, tirar umas fotografias. Sim, sim ... eu fui uma delas.

29 dezembro 2005

Imagens de Lisboa

Lisboa, Penha de França, 27 de Dezembro de 2005 às 12h37.

Pássaros

Mudos, mudados, mortificados,
estão nos troncos pousados,
na ânsia solar de telhados,
sob céus brancos e estagnados;
imóveis, parecem empurrados
por ventos abstractos e errados:
sem asas, os corpos inclinados,
mortos nos beirais desolados,
sem cantos nem versos contados.
Frios. Vagos. Astros petrificados.

Nuno Júdice

27 dezembro 2005

Mais Livros ...



Neste Natal, para aumentar a minha lista de leituras, recebi "Xeque ao Rei" de Joanne Harris (desta escritora li "Cinco Quartos de Laranja" e vi a adaptação para cinema do conhecido "Chocolate"); "Sobre a Mão e Outros Ensaios" de João Lobo Antunes (até agora, li "Memória de Nova Iorque e Outros Ensaios" (2002)) e "Sábado" de Ian McEwan, que é para mim um autor a descobrir.

Bem, como votos para 2006 começo já a antever que tenho que dedicar mais tempo à leitura....

Dezembro, mês do Natal ...


Lisboa, Miradouro da Srª do Monte, 27 de Dezembro de 2005 às 12h21.

Depois das festas de Natal, Lisboa desperta pouco a pouco. Nota-se ainda pouco movimento de carros e de pessoas nas ruas. Algumas sortudas só regressam ao trabalho para o ano. Eh! Eh! Eh! ;)

21 dezembro 2005

Bicentenário da Morte de Bocage



















Já Bocage não sou!... À cova escura


Já Bocage não sou!... À cova escura

Meu estro vai parar desfeito em vento...

Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento

Leve me torne sempre a terra dura.


Conheço agora já quão vã figura

Em prosa e verso fez meu louco intento;

Musa!... Tivera algum merecimento

Se um raio de razão seguisse pura!


Eu me arrependo; a língua quase fria

Brade em alto pregão à mocidade,

Que atrás do som fantástico corria.


Outro Aretino fui... A santidade

Manchei - ... Oh! Se me creste, gente ímpia,

Rasga meus versos, crê na eternidade!


Manuel Maria Barbosa du Bocage nasce, em Setúbal, no dia 15 de Setembro de 1765. Morre a 21 de Dezembro de 1805. Foi um génio incompreendido numa sociedade decadente e "imbecilizada pelo obscurantismo religioso". Para a posteridade ficou a sua Obra. Que viva Bocage!

20 dezembro 2005

Dezembro, mês do Natal ...

Lisboa, 9 de Dezembro de 2005, às 13h24.

A maior Árvore de Natal da Europa, vista a partir do Castelo de S. Jorge numa tarde de sol.

Portugal tem a maior árvore de Natal da Europa, o Brasil tem a maior do mundo. Que países tão ricos!

17 dezembro 2005

"A Dança" de Henri Matisse

"A Dança", 1910.
Óleo sobre tela, 260 x 391 cm.
Museu do Ermitage

Ao remexer uns papéis antigos, encontrei um postal de "A Dança" que há muito já tinha a sensação de estar perdido. "A Dança" é provavelmente o quadro mais famoso de Henri Matisse e continua a exercer em mim um certo fascínio.

No quadro encontramos representadas cinco figuras femininas (aparentemente), dançando nuas em roda de um eixo imaginário; uma colina ou um monte e o céu, ou talvez a água de um lago ou rio.

Predominam duas cores primárias azul e vermelho (alaranjado) e o verde complementar. As cores criam silhuetas recortadas que se unem num equilíbrio entre o verde e o azul em contraste com o tom cálido. As cores criam unidade e possuem uma luminosidade própria, intensa, valem por si.

O quadro exprime movimento e ritmo - derivado das formas arredondadas e volumosas das figuras que dançam. Estas figuras apresentam uma certa elegância (leveza de formas), assim como sugerem força corporal e muscular que impele ao movimento. As figuras transmitem energia.
A figura inferior central, com posição oblíqua, funciona como o "veio de transmissão" do movimento em elipse, no sentido dos ponteiros do relógio, ritmado como que a marcar o tempo.

O movimento e ritmo apontam para uma certa embriaguez (ou entusiasmo) dionisíaca, no sentido de uma libertação da dualidade humana (em relação à terra). Para o efeito contribui a cor vermelha (cor quente), que pode simbolizar o fogo que aspira ao alto, ou a força da vida, logo um culto iniciático, uma vertente divina; é essencial a tensão sugerida pelo tom cálido entre as cores frias (verde e azul).

A fertilidade é sugerida pela cor vermelha dos corpos nus e pela figura central vertical, devido à forma do ventre.

"A Dança" de Matisse alude à obra de Igor Stravinsky "A Sagração da Primavera". Sob certo ponto de vista, a representação de figuras que dançam num frenesim embriagante e primitivo, em "A Dança" alude ao ritmo diabólico e demolidor de "A Sagração da Primavera".

15 dezembro 2005

Viagem ...

Viajo pela selva amazónica através das palavras de Ferreira de Castro. Conheci o Alberto, o Firmino, o Juca Tristão, entre outros. Acompanho o trabalho dos seringueiros, as suas amarguras, dificuldades e tensões ... A minha viagem ainda não terminou.


Proposta de leitura via Leitura partilhada

14 dezembro 2005

Sunrise: A Song of Two Humans ...

Indre, de rosto inocente e com a doçura de um anjo louro, é a mulher de Anses. Margaret, mulher da cidade, sedutora, libertina, aproxima-se e enfeitiça Anses (a força).

A vamp, Margaret, irá tentar "destruir a respiração desses dois seres". Num "pacto faustico" com Anses irá premeditar a morte de Indre. Anses preso pela tentação começa a arruinar-se. Mas como que embruxado por Margaret, tenta cumprir o pacto.

Quebrado o feitiço, de Anses, surge o remorso e a tentativa de reparação da culpa através da reconciliação com Indre. Mergulham na cidade. A cidade como lugar de tentação, de desenvolvimento, mas também como lugar de festa e diversão.

De regresso, dá-se a prova final. A descida ao Hades, o resgate e o triunfo do bem sobre o mal.

«Sunrise: A Song of Two Humans», de F.W. Murnau, transporta-nos para um universo de polaridades: claro/escuro, bem/mal, anjo/demónio, puro/impuro, sagrado/profano, alegria/tristeza, amor/ódio, campo/cidade, etc.

Murnau jogou com os planos, com sobreposições e simbolizações. O resultado final é uma verdadeira obra prima do cinema. Ainda em exibição no Nimas.

12 dezembro 2005

A Cabeça de Medusa ...


«O único herói capaz de cortar a cabeça à Medusa é Perseu, que voa de sandálias aladas, Perseu que não volta os olhos para o rosto da Górgona mas só para a sua imagem reflectida no escudo de bronze. (...) Para cortar a cabeça de Medusa sem se deixar petrificar, Perseu apoia-se no que há de mais leve, o vento e as nuvens; e fixa o olhar no que só poderá revelar-se-lhe numa visão indirecta, numa imagem captada pelo espelho. (...)

A relação entre Perseu e a Górgona é muito complexa: não acaba com a decapitação do monstro. Do sangue da Medusa nasce um cavalo alado, Pégaso; o peso da pedra pode-se converter no seu contrário; com uma patada no Monte Hélicon, Pégaso faz jorrar a fonte em que bebem as Musas. (...) Quanto à cabeça cortada, Perseu não a abandona mas leva-a consigo, fechada num saco; quando os inimigos estão prestes a vencê-lo, basta que ele a mostre, erguendo-a pela cabeleira de serpentes, e este sangrento despojo torna-se arma invencível nas mãos do herói: uma arma que ele só usa em casos extremos e só contra quem merecer o castigo de se transformar em estátua de si próprio.»

Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milénio, Teorema, 1994,
( p. 18 e 19. )

Há dias assim. Há momentos assim. Em que não conseguimos escapar ao olhar petrificante de Medusa. Sofremos uma petrificação lenta, lenta ... e o mundo pesa. Isto deve ser destes dias frios!!! ;)

10 dezembro 2005

Há burros no Castelo ...

Está patente, no Castelo São Jorge, até 31 de Janeiro de 2006, a exposição "Hardware + Software = Burros" do fotógrafo italiano Oliviero Toscani. A exposição já esteve patente em Itália e em Santa Maria da Feira, no Imaginarius - Festival Internacional de Teatro de Rua.

Antigamente, o burro era um animal de grande ajuda para as gentes que trabalhavam no campo. De animal de carga para uns, para outros o único meio de transporte e para quase todos um auxílio imprescindível na amanha da terra. A vida muda. O mundo muda. Os mais velhos deixam de herança, aos mais novos, a terra onde toda a vida labutaram. Os mais novos ou partem para a cidade à procura de uma vida menos dura ou continuam a cuidar da terra, mas em vez dos burros, machos ou mulas, arranjam a maquinaria necessária para tais tarefas.

Onde havia animais, agora há máquinas. Tractores. Ceifeiras. Máquinas de apanha. Máquinas de semear ... Os currais transformam-se em barracões para albergar a parafernália agrícola. É o progresso, é a tecnologia a conquistar terreno em prol da produtividade. Melhor? Pior? Pelo menos o trabalho é menos duro ... mas os burros estão em vias extinção.

Não são só os burros que estão em vias de extinção. Com os burros extingue-se também uma ideia de mundo rural, as carroças, carros de bois, alforges, as vindimas e o pisar das uvas, o modo de trabalhar a terra, etc ... até o próprio ritmo de vida rural. As tradições já não são o que eram.

O homem criou a tecnologia. O homem adoptou a tecnologia. A tecnologia vicia o homem e as coisas simples perdem-se, esquecem-se. E os burros estão em vias de extinção.

08 dezembro 2005

Dezembro, mês do Natal ...

Lisboa, Rua Morais Soares, 07-12-2005, 23h21.

Dezembro é dos meses mais especiais do ano. Há outra vida nas ruas, outro colorido, as montras enfeitam-se para conquistar a vontade consumista dos transeuntes.

O Natal é das épocas mais bonitas do ano. As ruas enchem-se de motivos natalícios, com luzes e cor. As nossas casas ganham o presépio, a árvore de natal e muitas luzes a piscar.

Apesar de ser uma época de excessos, o importante é que cada um de nós não perca a magia. Haja alegria e muitos presentes! ;)

06 dezembro 2005

A arte de ser feliz

Lisboa, Portas do Sol, 04-12-2005, 10h23.

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles