17 abril 2006

1613

Na passada quarta-feira, emprestaram-me o livro 1613 de Pedro Vasconcelos. Sobre o autor tinha poucas referências, mas muita curiosidade por ouvir falar quem já leu o livro.

O romance começa com o julgamento de D. Manuel Álvares, em Goa. Sobre ele pesa a acusação injusta de ter entregue o Forte de Solor, nas Índias Orientais, aos holandeses.

D. Manuel tudo fez para lutar contra os holandeses e defender o forte. Com poucos homens e poucas munições recorreu à imaginação. Como estratégia usou água quente que lançou sobre os invasores, usou cabeças de aves trazidas e enfeitiçadas pelo curandeiro Molan, esfregou o barco, dos invasores, com uma pasta, feita a partir da planta Karlele, que dava muito comichão. Mas estas artimanhas não são suficientes para travar a força dos holandeses.

Ao lado de D. Manuel encontramos a princesa Nenu. Sobrinha do velho Gunnung, chefe de uma aldeia indígena, que não vê com bons olhos o relacionamento da sobrinha com o português.

D. Luís de Abreu, homem de poucas palavras, foi em tempos um jogador compulsivo a que a necessidade obrigou a enveredar pela carreira militar. É o braço direito de D. Manuel no forte.

Entre os holandeses encontramos o comandante Appolonius Scotte, o almirante Van de Velde, homem cruel e ambicioso, e Peter Cornellius, um verdadeiro esgrimista. Peter, encontra em D. Manuel um adversário à altura, não pela arte de manejar a espada, mas pela criatividade de resolver os confrontos.

Nenu tenta ajudar D. Manuel e pede ajuda ao feiticeiro Buan, pois não cumpriu a promessa que tinha feito ao curandeiro Molan. Depois de cumprir a missão que o feiticeiro Buan exigiu, esta é raptada pelos holandeses.

D. Luís depois de ferido procura suicidar-se no mar. Mas Nenu, consegue fugir e encontra ainda vivo D. Luís, que irá ter um destino fora do comum e fundamental no desenrolar da história.

D. Manuel perde a sua amada e foge, ajudado pelo Frei Belchior. Homem religioso, consciente da importância das outras religiões e um fervoroso leitor.

Ajudado pelo padre Jaime, um grande bibliófilo e fabricante de venenos, D. Manuel procura falar com o vice-rei. Este com o intuito de mostrar o seu poder e de ouvidos cheios, por um soldado que fugiu de Solor e que acusou D. Manuel de pactuar com os holandeses, manda-o prender.

Em Goa, D. Manuel viu-se em grandes trabalhos. Preso e acusado. Sem dinheiro, longe da sua amada Nenu e ainda o compromisso de se tornar um «casado de Goa». Mas nem tudo está perdido. Há forças superiores à vontade dos homens. Nenu e Frei Belchior irão ajudar ...

"1613" é um romance cheio de surpresas. Muita acção e aventura através do reencontro de dois amantes numa viagem de culturas, diferenças religiosas, conventos, livros, feitiçaria, poderes ocultos e a fuga à Inquisição.

Das personagens, simpatizo particularmente com Frei Belchior. Um homem inteligente, astuto e culto.

"1613" é o primeiro romance de Pedro Vasconcelos. Gostei da escrita, da dinâmica do romance, da criatividade, das referências às diferentes armas e às línguas locais.

A nossa história é tão grandiosa. "Dêmos novos mundo ao mundo", temos figuras ímpares, de certo com tanto para se dizer sobre elas, e temos tão poucos romances sobre os nossos feitos. Espero que "1613" seja apenas o começo para que o romance histórico português ganhe alento.

5 comentários:

Laranjinha disse...

Sim, tb gostei do Peter. Seria interessante ver a continuação do romance. Há ali muito potencial.

Marta disse...

Depois do que li neste post, fiquei muito curiosa para ler este livro.

Laranjinha disse...

Marta, se tiveres oportunidade lê. Vais adorar. É daqueles livros que nos "agarram" do princípio ao fim.

Anónimo disse...

1613 tem várias "virtudes", algumas já enunciadas, outras que deixo ao cuidado de futuros leitores. A minha personagem favorita é Frei Jaime. Gosto de personagens ousadas, brilhantes, visionárias. Frei Jaime é isto e muito mais. São particularmente iluminados os diálogos que mantém com D. Manuel. Muito se aprende com as suas palavras, numa época que tem muito pouco de tolerância e de ecumenismo. De um lado a negridão dos julgamentos do Santo Ofício, do outro, a fantástica percepção do que é humano e edificador.De facto, há figuras tão grandiosas na nossa História, masculina e femininas, umas ilustres desconhecidas, que há matéria para desafiar outros bons escritores a dar voz a esses pensamentos.
Gostei muito de ler 1613. A começar pela capa... A leitura começa pelo olhar...

Anónimo disse...

Entre tantas personagens, não me escolheram a mim? Sou um exemplo fantástico de visão, de determinação, de autoconfiança... Sem mim, a história não fazia nenhum sentido. Nenu é a personagem principal de 1613! Sou eu que crio os enredos e que entrelaço as diferentes situações... É por mim que D. Manuel sofre uma profunda transformação.. É por mim que o Ocidente encontra o Oriente...