12 dezembro 2005

A Cabeça de Medusa ...


«O único herói capaz de cortar a cabeça à Medusa é Perseu, que voa de sandálias aladas, Perseu que não volta os olhos para o rosto da Górgona mas só para a sua imagem reflectida no escudo de bronze. (...) Para cortar a cabeça de Medusa sem se deixar petrificar, Perseu apoia-se no que há de mais leve, o vento e as nuvens; e fixa o olhar no que só poderá revelar-se-lhe numa visão indirecta, numa imagem captada pelo espelho. (...)

A relação entre Perseu e a Górgona é muito complexa: não acaba com a decapitação do monstro. Do sangue da Medusa nasce um cavalo alado, Pégaso; o peso da pedra pode-se converter no seu contrário; com uma patada no Monte Hélicon, Pégaso faz jorrar a fonte em que bebem as Musas. (...) Quanto à cabeça cortada, Perseu não a abandona mas leva-a consigo, fechada num saco; quando os inimigos estão prestes a vencê-lo, basta que ele a mostre, erguendo-a pela cabeleira de serpentes, e este sangrento despojo torna-se arma invencível nas mãos do herói: uma arma que ele só usa em casos extremos e só contra quem merecer o castigo de se transformar em estátua de si próprio.»

Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milénio, Teorema, 1994,
( p. 18 e 19. )

Há dias assim. Há momentos assim. Em que não conseguimos escapar ao olhar petrificante de Medusa. Sofremos uma petrificação lenta, lenta ... e o mundo pesa. Isto deve ser destes dias frios!!! ;)

3 comentários:

Anónimo disse...

Outra forma de petrificação... é através de uma maldição (isto é muito Harry Potter)!!! loooooooooooool

Laranjinha disse...

Maldição!? Isto é mesmo é uma constipação.

DL disse...

Ele a água anda muito calcária...