28 novembro 2005

Crucifixos nas escolas ...

No seguimento dos comentários, "E um estado laico não pode permitir que continuem presentes símbolos de uma única religião nos seus estabelecimentos de ensino.", ao post "Crucifixos nas escolas" do Farol das Artes, aproveito para perguntar: quer-se dizer que no caso hipotético de estarem presentes símbolos de todas as religiões já não haverá problemas? Do género "tudo ou nada"?

Ou será preferível uma postura de neutralidade absoluta, advogando a remoção de todos e quaisquer símbolos religiosos? E quando deixar de ser apenas uma questão de símbolos materiais? E quando a questão passar para os conteúdos leccionados? O que fazer?

Por último, não deverá uma escola adequar-se e respeitar (nos símbolos, conteúdos, etc.) a comunidade em que se insere? Isto tudo para chegar à pergunta: como e quem é que deve definir os limites?

Apesar de me inclinar mais para a não existência de símbolos religiosos nos estabelecimentos de ensino público (estatais), ainda não consegui chegar a uma conclusão definitiva.

11 comentários:

M disse...

Não percebo é porque não acabam com a disciplina de Educação Moral religiosa Católica...

Ricardo disse...

Viva,

O importante é esvaziar a polémica.

O Estado não é laico por um mero acaso mas porque para ser uno necessita de não criar diferenças com base na religião. Por isso mesmo que a escola esteja inserida num meio maioritariamente católico, o ideal é não haver, oficialmente, manifestações de símblolos religiosos. Porque no dia em que chegar alguém com uma religião diferente pode haver condicionamentos. Adicionalmente, não devemos misturar religião e escolas porque a escola tem o dever de transmitir conhecimento e sabemos que há incongruências claras entre todas as religiões e alguns dos temas abordados na escola (teoria da evolução, big bang, copérnico, inquisição).

Acho que só havia vantagens para, discretamente, fazer cumprir a lei.

Abraço,

Pedro Farinha disse...

Concordo com o que o Ricardo disse, e apesar disso, até acho que a escola deve integrar elementos culturais do meio em que se insere.
Não vejo nada de mal que na escola se fale do Natal, da Páscoa, do Ramadão, etc.
Mas a escola deve ser isenta de religião.

Laranjinha disse...

Em relação à disciplina de religião e Moral até concordo com a sua existência nas escolas, pois penso que só frequenta quem quer. No entanto, a escola deve estar disponível também para outras confissões religiosas.

Como vivemos numa sociedade cada vez mais multicultural, a escola não deve impor quaisquer símbolos religiosos. Deve promover o diálogo e procurar que os alunos compreendam as diferenças, sejam elas religiosas ou não.

Se a religião censura e manipula os conteúdos leccionados, acho mal.

Neutralidade absoluta nunca temos. Definir limites é sempre o resultado de uma visão.

Henriqueta disse...

Parece que não me exprimi de forma clara no post no Farol das Artes: Não considero correcto estarem presentes simbolos de uma só religião numa escola .... mas isso não significa que eu afirme que estava de acordo se estivessem presentes simbolos de todas as religiões. E tal situação seria impossível porque são inúmeras as religiões na actualidade; pelo que essa representação estaria sempre incompleta! E algumas religiões não prestam culto a imagens ...

Henriqueta disse...

Quero também esclarecer que a lei Portuguesa prevê que possam ser leccionadas aulas de outra confissão religiosa; desde que o número de alunos que professam essa religião seja significativo. Estive numa escola onde era leccionada a disciplina de Educação Moral e Religiosa Evangélica.

M disse...

Pois eu acho que a religião deveria ser separada da educação.

Anónimo disse...

E que tal aproveitarem a disciplina de religião e moral para explicar as várias religiões que existem, talvez diminui-se a intolerância com o próximo...

Professor Pardal disse...

Agradeço desde já, a todos os intervenientes, os vários comentários. Por aqui (e no resto da "blogosfera portuguesa") dá para ver o quanto este tema "aparentemente pacífico", deixa de o ser tocando toda a gente de uma maneira, diria eu, (bastante) profunda.

Ricardo, quando diz "O Estado não é laico por um mero acaso mas porque para ser uno necessita de não criar diferenças com base na religião." esquece-se que existem estados confessionais pelo mundo inteiro (Israel, Arábia Saudita, Irão, etc.) e não deixam de ser unos só por isso. Basta que a maioria nesse país/nação/região partilhe da mesma "crença".

"Por isso mesmo que a escola esteja inserida num meio maioritariamente católico, o ideal é não haver, oficialmente, manifestações de símblolos religiosos". A meu ver, é uma afirmação contraditória, pois se a maioria é (no seu exemplo) católica, então até poderá ser um pouco natural, no sentido de não impor constragimentos, haverem as tais manifestações simbólicas de carácter religioso. Ideal para quêm? Para a tal comunidade que até profere e comunga maioritariamente da mesma "crença"? Penso que o "ideal" na sua frase denota mais a intenção de quem profere a frase. ;)

"Porque no dia em que chegar alguém com uma religião diferente pode haver condicionamentos". No caso de se impor a proibição das tais manifestações religiosas, não se estará no limite, exactamente a constragir a maioria dos membros dessa comunidade?

"Adicionalmente, não devemos misturar religião e escolas porque a escola tem o dever de transmitir conhecimento e sabemos que há incongruências claras entre todas as religiões e alguns dos temas abordados na escola (teoria da evolução, big bang, copérnico, inquisição)". Perdoe o meu papel de advogado do diabo ;), mas não acha que as temáticas religiosas possam também ser consideradas conhecimento (em sentido lato)? E o divulgar, discutir várias perspectivas (fundamentais) sobre aspectos importantes da nossa vida não contribuem para a educação do indivíduo?

Pedro, "Mas a escola deve ser isenta de religião". Apesar de levar em linha de conta que estamos a falar apenas sobre o universo de escolas públicas (estatais) e pegando no assunto anterior, não acha que estamos a limitar em demasia a essência da educação? Fazendo com que os alunos deste tipo de escola estejam "em desvantagem" com os seu colegas que frequentam outro tipos de escolas (privadas e cooperativas) de cariz religioso e/ou confessional?

Henriqueta, apenas utilizei os seus comentários como ponto de partida. Por várias razões, algumas das quais acabou de mencionar, concordo consigo quando diz que seria impossível colocar todos os símbolos religiosos na mesma escola. Estava no meu "post" apenas a questionar pelo absurdo.

"Quero também esclarecer que a lei Portuguesa prevê que possam ser leccionadas aulas de outra confissão religiosa; desde que o número de alunos que professam essa religião seja significativo". Aqui, como nos comentários do Ricardo e do Pedro, parece transparecer que talvez seja do interesse de todos nós (através do estado), permitir que 1) a escola pública (estatal) se deva "adequar" à(s) comunidade(s) em que cada escola se insere e 2) que exista alguém que deva tomar a decisão, escola a escola, de como é que esse "adequamento" deva ser feito para cada uma delas. A meu ver, a única hipótese viável, tendo em conta 1) e 2), é ser a comunidade local decidir para cada caso e evitar medidas centralizadoras do tipo "one size fits all". Sugestões alternativas para atingir 1) e 2)?

Gostaria também de chamar a atenção para o facto de que quando criamos uma norma/lei (para o país todo) do género a proibir os tais símbolos religiosos, não estamos a ser de facto, totalmente neutrais, pois estamos a impor uma postura "não neutral" exactamente para aquelas comunidades que maioritariamente desejam a presença dos tais símbolos. Mas melhor que eu, já outros explicitaram este ponto. Ver também aqui.

Finalmente, Marco e Rute, se partirmos do princípio que a tal "disciplina" de religião e moral for opcional, como é que cada um de vós sustenta as respectivas opiniões apresentadas?

Mr. Me disse...

Tive a sorte de ser educado numa escola aonde havia pelo menos 100 nacionalidades diferentes. Dessas 100 nacionalidades havia representação de tudo o que é religião a nível internacional, desde a simples e comum igreja católica à mais pequena representação de um qualquer tipo de crença praticada por um aluno oriundo de um pais daqueles que não sabemos prenunciar o nome!
Tratando-se de uma escola situada num pais árabe, uma das religiões predominantes era a muçulmana, seguida provavelmente pela católica. É certo que não havia cruzes na parede, pois não combinavam lá muito bem com o decor do estabelecimento, mas facto é que se algum aluno quisesse aparecer com um crucifixo na testa, ninguém o impedia! O mesmo aplica-se claro ao desgraçado do muçulmano que no ramadão passava uma fome de rato enquanto os restantes alunos comiam que nem uns alarves. Tratava-se, no meu entender, de uma liberdade incondicional ao direito que cada pessoa tem para viver a sua religião.

Anónimo disse...

Depois de ler atentamente os posts de uns e outros, não deixo de congratular-me com a sensatez e exemplo de tolerência trazido por Mr me. Quase todos tivemos vivências religiosas na escola e, embora possamos não professar activamente votos de exclusividade religiosa, dificilmente teremos passado por situações directas de desrespeito pelos nossos valores e práticas. Falta na escola, e falo do ponto de vista da educadora que sou, como no de mãe, esse espírito mais abrangente e ecuménico, onde haja espaço para a aceitação do outro e da sua diferença. Não gosto de crucifixos, como não gosto de tantos outros símbolos de violência ( sim, o crucifixo é um símbolo gratuito de violência, que em nada respeita a verdade histórica). Se soubermos fazer a ponte para essa integração da multiculturalidade, seremos seguramente mais conscientes e, por isso mesmo, mais plenos na nossa condição humana.