28 novembro 2005

Crucifixos nas escolas ...

No seguimento dos comentários, "E um estado laico não pode permitir que continuem presentes símbolos de uma única religião nos seus estabelecimentos de ensino.", ao post "Crucifixos nas escolas" do Farol das Artes, aproveito para perguntar: quer-se dizer que no caso hipotético de estarem presentes símbolos de todas as religiões já não haverá problemas? Do género "tudo ou nada"?

Ou será preferível uma postura de neutralidade absoluta, advogando a remoção de todos e quaisquer símbolos religiosos? E quando deixar de ser apenas uma questão de símbolos materiais? E quando a questão passar para os conteúdos leccionados? O que fazer?

Por último, não deverá uma escola adequar-se e respeitar (nos símbolos, conteúdos, etc.) a comunidade em que se insere? Isto tudo para chegar à pergunta: como e quem é que deve definir os limites?

Apesar de me inclinar mais para a não existência de símbolos religiosos nos estabelecimentos de ensino público (estatais), ainda não consegui chegar a uma conclusão definitiva.

27 novembro 2005

Guerra dos Mundos ...

A Guerra dos Mundos é um filme de Steven Spielberg, baseado na obra de H.G. Wells, com o mesmo nome, de 1898. War of the Worlds possui uma outra versão cinematográfica, realizada em 1953, por Byron Haskin.

A par de uma ameaça extraterrestre, que pretende destruir a espécie humana e o planeta tal qual o conhecemos, desenrola-se a história de uma família. Ray Ferrier (Tom Cruise), divorciado e pai de dois filhos, Robbie (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning). As relações entre eles não são as melhores. Ray é nitidamente um pai ausente, que sabe muito pouco dos seus filhos.

A acção começa quando a mãe, Mary Ann (Miranda Otto) e o seu actual marido, deixam os filhos com Ray e dirigem-se para Boston, onde vão passar o fim-de-semana. Entretanto, a cidade é abalada por sinais de uma forte tempestade e começa uma sucessão de assustadores relâmpagos. A calma aparente da cidade é interrompida por máquinas, que irropem do solo, e que começam a matar os humanos e restantes seres vivos, ou a reduzi-los a pó com um raio fulminante (deixando as roupas intactas) ou num processo mais elaborado, capturando-os e tirando-lhes o sangue.

A principal questão do filme centra-se no sentimento de impotência por parte dos humanos em alterar o rumo das coisas, nomeadamente face a uma ameaça externa. O comportamento dos extraterrestre é análogo ao comportamento dos humanos para com as outras espécies e muitas vezes com a sua própria espécie. Muitos são os livros e filmes que nos colocam perante a possibilidade de uma ameaça extraterrestre. Enquanto espécie não nos imaginamos submissos a outra espécie. Parece que temos receio que nos façam aquilo que fazemos aos "outros"!?

Outro aspecto interessante, presente no filme, é o da natureza humana. Em situações de crise e de sobrevivência somos capazes do melhor e do pior. Ray acaba por descobrir os seus filhos. Aquilo que eles fazem, do que gostam e que problemas têm. Os filhos começam a admirar o pai, deixando de ser alguém com quem passavam uns dias de tempos a tempos, para sentirmos que a partir desta provação, passa a ser uma referência. O pior, revela-se quando menos esperamos, numa situação de crise todos somos potenciais assassinos. Para proteger a nossa vida e dos outros de quem gostamos, também somos capazes de acções moralmente reprováveis. Em desespero de causa, quando, por exemplo, no filme, a multidão luta e mata pela posse do único carro em funcionamento. Ou em situações racionalizadas até ao limite, onde matar o outro é o "único" caminho possível para assegurar a sobrevivência, neste caso de Ray e da filha.

O filme chama ainda a nossa atenção para a dependência que a espécie humana tem em relação à tecnologia: energia eléctrica, telemóveis, carros, etc. ... Estamos tão dependentes de determinados objectos que já é difícil pensar a nossa vida sem eles. Já pensaram o que seria se, por exemplo, durante um mês seguido não houvesse telemóveis (e acesso à Internet ;) )!?

26 novembro 2005

Lisboa pela manhã ...

Graça. Lisboa. 12h04.

Miradouro da Graça. 12h06.

Chove, faz sol e frio, mas Lisboa mantém sempre o mesmo encanto, a mesma luz. Gosto desta cidade.

24 novembro 2005

As aulas de substituição ... (III)

Mas tanto barulho acerca das aulas de substituição, porquê?

Não se quer compreender que os alunos, sendo a razão de ser da escola, têm o direito de lhes satisfazer o contrato (implícito) de assistir às aulas?

Não se quer perceber que este assunto já foi resolvido em muitas escolas (públicas e privadas) tanto cá em Portugal como lá fora?

Porquê tanta falta de vontade para resolver um problema, que é acima de tudo, de carácter organizativo? Haverá assim tanta falta de vontade para se organizar escalas e materiais pedagógicos para quando um professor falta?

Porque é que não se aproveita um evento de carácter excepcional (a falta de um professor) para criar uma oportunidade de orientar e fornecer aos alunos saberes e competências complementares, na mesma área científica ou não (consoante o grupo pedagógico do professor substituto), utilizando materiais previamente elaborados por professores dessa mesma escola? Ou vamos reduzir a profissão ao picar do ponto e dar aulas (em série)?

[ Posts relacionados: Aulas de substituição I e II ]

22 novembro 2005

Dias Exemplares de Michael Cunningham

Michael Cunningham, escritor norte-americano, esteve hoje no El Corte Inglés, em Lisboa, para o lançamento do seu último livro "Dias Exemplares", publicado pela Gradiva. A apresentação esteve a cargo de Nuno Galopim.

O autor de "As horas", "Sangue do Meu Sangue" e "Uma Casa no Fim do Mundo" referiu que os seus leitores não terão de esperar mais sete anos até ao seu próximo romance. Para ele, a sua última obra é sempre a melhor. Referiu também a importância da tradução.

Segundo Nuno Galopim, "Dias Exemplares" é uma obra com três histórias sobre Nova Iorque: Nova Iorque da Revolução Industrial (Dentro da Máquina), Nova Iorque na actualidade, obsecada com o terrorismo (A Cruzada das Crianças) e Nova Iorque no futuro (Uma Espécie de Beleza).

As obras "As Horas" e "Uma Casa no Fim do Mundo" já foram adaptadas ao cinema.

Na Tempestade ... conto filosófico

«Nasreddin Hodjâ, como tantos «loucos» ou pobres de espírito, caracteriza-se muitas vezes por um comportamento inesperado que parece ilógico, insensato.

Assim, vemo-lo sentado na parte de trás de uma piroga que atravessa conforme pode um braço de mar. À sua frente, dois homens remam vigorosamente. Nasreddin nada faz.

De súbito, levanta-se uma tempestade. Revela-se violenta. Perigosas vagas sacodem a piroga. Os dois remadores esgotam-se a lutar contra o mar, que a cada instante ameaça engolir o frágil esquife.

Voltam-se para deitar uma olhadela a Nasreddin e vêem-no, muito estranhamente, a tirar água do mar e a deitá-la dentro da piroga. Espantados, gritam:

- Que fazes? Estás louco? É o contrário o que é preciso fazer! Porque metes água dentro da piroga?

- A minha mãe - responde Nasreddin - sempre me disse que é preciso estar do lado dos mais fortes.»

Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro, Teorema, 1999, P.330

21 novembro 2005

The Rest is Silence II

A obra The Rest is Silence II (2003) de Noé Sendas, está em exposição no Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão, em Lisboa.

Num quarto escuro, encontramos sentados de costas com costas, duas figuras humanas com as mãos nos bolsos, postura curvada e os rostos ocultados. A separá-los apenas um espelho. Não se ouve nada. Apenas silêncio...

Perante esta imagem, aguardava a qualquer momento que houvesse movimento. Que uma das figuras levantasse a cabeça e que a outra, com a cabeça tapada, começasse a respirar. O silêncio é confrangedor. A postura das figuras e os rostos escondidos deixam-nos inquietos.

The Rest is Silence perturba, não nos deixa em silêncio ...

20 novembro 2005

Lisboa pela manhã ...

Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, 09h43.

A chuva cai sem dar descanso a quem anda na rua. As árvores despem-se ao sabor do vento. Nestes dias, cinzentos e chuvosos, apetece correr para casa e passar o resto do dia enroscada no sofá. Como companhia o livro de Richard Zimler, Goa ou O Guardião da Aurora e muito chá, de preferência, quentinho ...

18 novembro 2005

As aulas de substituição ...

Considero que, por um lado, assistir às aulas é um dever de qualquer aluno, por outro lado, as aulas são um direito que os alunos têm, não só para aprenderem conteúdos, mas também como forma de aprenderem/corrigirem atitudes e/ou comportamentos. Portanto, as aulas de substituição fazem todo o sentido.

A questão que normalmente colocam é: fará sentido colocar um professor de filosofia a substituir um professor de matemática?

Para mim, esta questão não indica o principal problema do mau estar em relação às aulas de substituição. Mas mesmo assim, porque não. A aula de substituição é uma forma de manter o contrato de ensino/aprendizagem com o aluno. Agora, estas aulas exigem trabalho, esforço e coordenação por parte da escola e dos grupos disciplinares.

Os grupos disciplinares têm que produzir materiais para as aulas de subsituição. É certo que dá trabalho. Mas não é impossível.

Quando um professor já sabe antecipadamente que vai faltar, deverá deixar a aula de substituição preparada. Ou seja, se o professor de matemática vai faltar deverá deixar materiais preparados para a aula (ex: uma ficha de exercícios). Se assim for, o professor de filosofia terá que supervisionar e manter a disciplina na sala de aula. Isto levanta problemas? Porquê?

Quando não se têm materiais da disciplina do professor que falta, o professor que vai substituir deve usar as suas competências pedagógicas. Criar materiais próprios ou usar os disponibilizados pelo seu grupo disciplinar para estas aulas. Enfim, exercitar competências que promovam atitudes construtivas, disciplina de e no trabalho, com o intuito de promover comportamentos positivos.

O que é inadmissível é que haja alunos a terem em média 3 furos por semana, tal como revela um estudo publicado esta semana. Se os professores fossem obrigados a compensar as aulas em que faltaram, a conversa seria outra ... ;)

Os alunos não podem ser prejudicados pelo absentismo dos professores. Deveriam ser os primeiros a exigir ter aulas. É a sua formação que está em causa. E numa sociedade cada vez mais competitiva, só irão singrar os mais bem preparados.

Deveria ser prática comum, no final de cada trimestre, os encarregados de educação serem informados, juntamente com as notas dos seus educandos, do absentismo dos professores.

É curioso verificar que o problema do absentismo verifica-se, com esta dimensão, apenas no ensino público. Porque será?

14 novembro 2005

Mais uma pequena grande causa ...


Simplesmente genial! :)

13 razões, algumas delas bastante divertidas, para mudar de browser em:
www.killbillsbrowser.com.


P.S.: Não aconselhável a pessoas com susceptibilidades à flor da pele.

P.S.S.: Detector de enviesamento ("bias") activado!

10 novembro 2005

Colisão ...


Crash (Colisão) é um filme de Paul Haggis. Este filme reforça a ideia que qualquer pessoa é capaz do melhor e do pior. Todos temos preconceitos, independentemente de pensarmos que não.

Não considero o filme apenas um retrato da sociedade americana, penso que é o retrato de um pouco de todos nós e do mundo em que vivemos.


ADENDA [ Professor Pardal ]: Essa do retrato fiel é um pouco forte demais! Por razões comunicacionais e artísticas, acho que os preconceitos e estereótipos foram todos "amplificados" de maneira a que o filme funcionasse (melhor). De qualquer maneira, é um filme de cinco estrelas.

Já agora, uma provocação: Será possível viver sem preconceitos e estereótipos? ;)

07 novembro 2005

O lado bom da torrada ... conto filosófico

« Uma pergunta verdadeiramente incómoda foi um dia feita a um rabino, como nos conta uma das mais saborosas histórias judias.

É na verdade a história de um milagre. Certo dia, um homem deixou cair, por descuido, a sua torrada com manteiga e nesse dia, por extraordinário que pareça, não caiu sobre o lado que tinha a manteiga. Contrariamente a todos os hábitos, a todas as crenças, contrariamente ao que afirmam as Escrituras, a torrada caiu do lado do pão seco.

Tratava-se sem dúvida alguma de um milagre.

A notícia espalhou-se a toda a velocidade lá na terra, as pessoas juntavam-se e lançavam-se em profundas discussões. Por que razão, naquele dia, a torrada não teria caído do lado da manteiga?

Acorreram à sinagoga, falaram do assunto ao rabino que considerou a questão muito embaraçosa e pediu todo um dia e uma noite de reflexão e oração.

Era um homem com grande fama de sábio. Durante todo o dia e noite jejuou, reflectiu, orou e consultou os livros santos.

No dia seguinte, o rosto fatigado mas iluminado pela verdade, dirigiu-se à casa onde se tinha dado o pretenso milagre. Toda a cidade foi com ele. Pediu que o levassem junto do homem e disse-lhe:
- A solução é simples e vou dizer-ta. Não foi a torrada que caiu mal. Foste tu que barraste a manteiga do lado errado. »

Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro, Teorema, 1999, p.291

06 novembro 2005

Lisboa pela manhã ...

Janelas Verdes, 9h5o.

Jardim em frente ao Museu Nacional de Arte Antiga. As manhãs estão mais frias. No entanto, o sol espreita e convida a um momento de pausa.

05 novembro 2005

Nove Contos

Terminei esta semana a leitura do livro Nove Contos de J. D. Salinger, editado pela Difel. Esteve em análise, até 31 de Outubro, no Leitura Partilhada.

Os contos transportam-nos para um mundo cheio de personagens: Muriel, Seymour e Sybil (Um Dia Ideal para o Peixe-Banana); Mary Jane, Eloise e Ramona (Pai Torcido no Connecticut); Selena, Ginnie Mannox e o irmão de Selena (Pouco Antes da Guerra com os Ésquimós); John Gedsudski, Mary Hudson e o bando do Homem-Gargalhada (O Homem-Gargalhada), Boo Boo e Lionel (Em Baixo no Bote), Esmé, Charles e o soldado americano (Para Esmé - Com Amor e Sordidez); homem grisalho, rapariga e Arthur (Linda Boca e Verdes Meus Olhos); Bobby, M. Yoshoto e Madame Yoshoto e Jean Daumier Smith (A Fase Azul de Daumier-Smith) e Teddy, Booper e Nicholson.

Os contos escondem outros contos dentro do conto. A história de um conto conduz-nos a outras histórias que se interligam. O Homem-Gargalhada é o exemplo mais evidente.

Dos nove contos, o que mais gostei foi "A Fase Azul de Daumier-Smith". Pela inteligência de Jean, pelo ambiente da escola Les Amis de Vieux Maîtres, pelas personagens de M. Yoshoto e Madame Yoshoto, pelos desenhos/pinturas e pela freira Irma.

É um livro que vale a pena.

03 novembro 2005

A Marcha dos Pinguins

Ontem vi, na televisão, a apresentação do filme A Marcha dos Pinguins e fiquei com imensa curiosidade em ir ver este filme.

Realizado por Luc Jacquet, o filme é um documentário sobre a viagem que os pinguins-imperador realizam para acasalar.

Foi filmado em condições climatéricas adversas, mas o resultado final, pelas imagens que vi, pareceu-me belíssimo. Sensível. Com uma fotografia excepcional.

"A Marcha dos Pinguins" é um documentário filmado/contado em história de amor. A música é inspiradora.

A Marcha dos Pinguins

The Frozen World
Emilie Simon

Won't you open for me
The door to your ice world
To your white desert

I just want to stare
Out over these snowfields
Until we are one again

We belong to the frozen world

When the ice begins to thaw
Becomes the sea
Oh, you will see
How beautiful we can be

Everything is calm
At the end of the planet
In our white desert

The sun kissed the ice
It glistens for me
And we are one again
We belong to the frozen world

When the ice begins to thaw
Becomes the sea
Oh, you will see
How beautiful we can be

When the ice begins to thaw
Becomes the sea

As próximas leituras II ...

Música para: Para contrariar o ambiente cor-de-rosa ...

5.01 AM (The Pros and Cons of Hitchhiking)
por Roger Waters


An angel on a Harley
Pulls across to greet a fellow rolling stone
Puts his bike up on it's stand
Leans back and then extends
A scarred and greasy hand...he said
How ya doin bro?...where ya been?...where ya goin'?
Then he takes your hand
In some strange Californian handshake
And breaks the bone
Have a nice day

A housewife from Encino
Whose husband's on the golf course
With his book of rules
Breaks and makes a 'U' and idles back
To take a second look at you
You flex your rod
Fish takes the hook
Sweet vodka and tobacco in her breath
Another number in your little black book

These are the pros and cons of hitchhiking
These are the pros and cons of hitchhiking
Oh babe, I must be dreaming
I'm standing on the leading edge
The Eastern seaboard spread before my eyes
"Jump" says Yoko Ono
"I'm too scared and too good looking" I cried
"Go on", she says
"Why don't you give it a try?
Why prolong the agony all men must die"
Do you remember Dick Tracy?
Do you remember Shane?
And mother wants you
Could you see him selling tickets
Where the buzzard circles over
Shane
The body on the plain
Did you understand the music Yoko
Or was it all in vain?
Shane
The bitch said something mystical "Herro"
So I stepped back on the kerb again

These are the pros and cons of hitchhiking
These are the pros and cons of hitchhiking
Oh babe, I must be dreaming again

These are the pros and cons of hitchhiking

02 novembro 2005

Música para: Partir corações ...

Everlasting love
por Jamie Cullum

Hearts gone astray
Deep in her when they go
I went away
Just when you needed me so
You won't regret
I'll come back begging you
Won't you forget
Welcome love we once knew

Open up your eyes
Then you'll realize
Here I stand with my
Everlasting love

Need you by my side
Girl to be my pride
Never be denied
Everlasting love

Hearts gone astray
Deep in her when they go
I went away
Just when you needed me so
You won't regret
I'll come back begging you
Won't you forget
Welcome love we once knew

Open up your eyes
Then you'll realize
Here I stand with my
Everlasting love

Need you by my side
Girl to be my pride
Never be denied
Everlasting love

From the very start
Open up your heart
Feel that you're falling
Everlasting love

Need a love to last forever
Need a love to last forever
Need a love to last forever
Need a love to last forever

I Need a love to last forever

As próximas leituras ...

01 novembro 2005

Engano na pessoa ... conto filosófico

« Um pequeno comerciante judeu que se chamava Simão só tinha um objectivo: a riqueza. Poupava moeda a moeda, cortava na habitação, no vestuário, na alimentação, com extraordinária perseverança. Tudo lhe parecia demasiado belo, demasiado caro. Até o indispensável lhe parecia supérfluo. Levava uma vida miserável.

Ao cabo de uns trinta anos neste regime - isto tinha lugar no fim do século passado - Simão, tal como previra, ficou rico. Num instante mudou de vida: deixou de trabalhar, foi ao cabeleireiro, à manicura, comprou roupas de grande luxo nos melhores alfaiates de Paris e viajou até à Côte d´Azur.

No primeiro dia, em Nice, quando ia a sair de um grande hotel de sapatos impecáveis, calças justas, casaco novo no melhor tweed escocês, gravata, bengala, chapéu, e meteu pela Promenade des Anglais, chocou com ele violentamente uma tipóia.

O choque foi fatal. Simão jazia na calçada, mal respirando, desarticulado. Mirones compadecidos juntaram-se em redor do moribundo.

Nesse momento, marcado pela dor, os olhos cheios de lágrimas particularmente amargas, Simão ergueu o seu último olhar ao céu e disse:
- Porquê? Porque me deste a morte hoje?

Então, para grande espanto dos mirones, as nuvens entreabriram-se e ouviu-se a voz de Deus responder:
- Para te falar francamente, Simão, não te tinha reconhecido.»

Jean-Claude Carrièrre, Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro, Teorema, 1999, p.121